quarta-feira, 30 de março de 2016

Nova etapa da vida.

 Minha filha começou a ir para a escola esse ano. Todo aquele tumulto de noooooossa, sua filha não vai na creche,você não trabalha, o que você faz com ela o dia todo, você está desperdiçando seu potencial parando de trabalhar para virar dona de casa e blablablablalbla simplesmente acabou. Os 4 anos esperados acabaram e ela começou na escola (Escola, não creche e nem escolinha, escola, na hora certa, na idade obrigatória por lei).
 Ela tem aula de artes, música, esportes, literatura, brincadeiras, super bem socializada, o primeiro dia de aula foi uma choradeira, minha lógico e não na frente dela, ela viu aquele monte de criança da idade dela, mesinhas e cadeiras pequerruchas, todo aquele material que comprei lá à disposição, legos, massinhas, lápis de cor, canetinhas, parquinho, quadra, só me disse: xau mãe! Bingo, o medo que ela não iria se socializar não existe. Não teve adaptação da parte, pois ela já estava com vontade de ir.
 A única adaptação que está ocorrendo gradativamente é a minha, primeira semana fiquei meio perdida, não que eu não tinha o que fazer, pois tenho muito, mas com o fato de saber como poderia encaixar essas coisas nesse horário que ela está na aula. Marquei acupuntura na primeira semana, fui verificar aulas de yoga, tênis, pilates e ver o que se encaixa no horário e no orçamento. Fiquei com acupuntura às quartas e rpg às segundas, já que o plano cobre, tênis e pilates vai ter que esperar.
 Me perguntaram quando vou voltar a trabalhar, bom, se alguém conseguir me arrumar um trabalho que eu possa trabalhar 3 horas por dia e ser bem remunerada agradeço. Ela estuda da uma às cinco e meia, levo e busco, "Ah, manda de Topic, certo, quem vai esperar a Topic na ida e volta?
 Enfim, pensei que teria todo o tempo do mundo, tempo e dinheiro, para fazer tudo que não fiz esses 4 anos. O dinheiro continua curto e agora mais do que nunca tenho que controlar bem, pois todo dia é um livro,um jogo, uma atividade da escola, gasolina ida e volta, lanchinhos, almoço de quando já estamos na rua e vamos direto para a escola.
 Fora a exaustão, por mais que canse ficar com uma criança dentro de casa, a rotina de horários é mais cansativa, o começo foi terrível, fazer ela entender que tem que comer naquele horário senão somente às 3 da tarde no lanche, que tem que se trocar que temos que sair, aguentar ela berrando durante dois meses todos os dias na volta, fazê-la compreender que é cansaço por ter passado na escola e tirar paciência de onde não tenho para não berrar junto acabou com minhas forças.
 Está sendo ótimo tirar um tempo só meu,cuidar da minha saúde que não andava boa, tratar minha coluna que está em pandarecos, tenho que cuidar, pois já sinto tanta dor com 37 anos, imagina quando chegar aos 60,não quero chegar lá no fundo de uma cama.
 Achei que faria muito mais coisas, mas o tempo é curto e passa rápido, estou em adaptação, esse semestre está servindo para me mostrar como será minha rotina pelos próximos 15 anos, estou sentindo como será.
 Continuo com planos de cursos em moda, quem sabe estudar direito, voltar a trabalhar, mas tudo na sua hora, agora quero ser mãe e cuidar da minha família, criança não se cria sozinha, alguém tem que cuidar até ela poder se virar sozinha e prefiro que seja eu.
 Tive que abrir mão de tanta coisa nesses 4 anos, por ela, pelo apartamento, que cheguei a me sentir culpada pelo fato de poder ter um tempo agora para cuidar da minha saúde, pode isso? Me acostumei tanto com a angústia, com a privação do básico da vida, me acostumei tanto a andar de ônibus durante esse tempo que cheguei a me questionar se eu merecia que agora tenho um carro para levar minha filha para a aula. Decidimos que eu fico com o carro, meu marido vai trabalhar a pé, já que compramos o apartamento a dois quarteirões de distância do trabalho dele para ele ficar perto do trabalho e quando ele precisa viajar a empresa tem a frota para os funcionários viajarem. Assim não precisamos gastar agora para comprar outro carro, ele vai comprar outro para ele quando pudermos.
 Eu estava com a cabeça cheia, meio zonza, esperei tanto por isso,parecia que ia demorar tanto e está aí, acontecendo, tomando conta, ela finalmente vai à escola e eu tenho um tempinho meu, só meu, isso é fantástico, pensei que ia pirar, explodir, estava mau, exausta, no fundo do poço, sou um ser humano e tenho minhas necessidades, não é porque virei mãe que virei um ser que abdica da vida. É humanamente impossível.
 Eu sobrevivi aos 4 anos e digo que foi a melhor coisa que fiz na minha vida, apesar de difícil, de cansativo, de exaustivo, foi a melhor decisão, ficar com ela durante esse tempo, passeando, conhecendo a cidade, aproveitando a piscina no calor, almoçando com minhas amigas. Agora é rotina de segunda a sexta, acorda, café, prepara mochila, lancheira, almoço, leva para a aula, faço duas ou três coisas, já busco, jantar, banho, dorme que amanhã é outro dia...