sexta-feira, 24 de maio de 2013

Vazio interior...

 Olha, está difícil, tenho vontade de comprar as coisas, vejo um vestido na Gregory, que estou fissurada e eu até sonho com o bendito!!! Só que ele custa R$500,00, normal, um vestido da Gregory, plissadinho, lindo!!! Não posso comprar, sabe porque? Porque já comprometi meus próximos 3 salários pelo menos fazendo parcelados, que coisa horrorosa... Não é porque eu não posso pagar R$500,00 num vestido, porque eu posso, mas como eu faço questão de comprometer todo meu dinheiro antes de receber... Não posso.
 Enfim, o que eu queria dizer era que estou começando a entender a psicóloga, que fala que essa minha ânsia de ter as coisas, de possuir, de comprar, essa voracidade, como diz ela (acho a palavra horrível e forte, mas não deixa de ser verdade), ela diz vir de um vazio dentro de mim que tenho desde a minha tenra infância e acabo descontando fazendo alguma coisa exagerada, tem gente que come, tem gente que bebe, tem gente que se droga, eu faço compras e me enrolo no cheque especial... Melhor né, porque comida engorda, bebida e droga vicia, pelo menos compras eu só passo vergonha quando volta algum cheque, que diga-se de passagem, estou de parabéns, pois já vai para 3 meses que não volta um cheque meu (sei que é ridículo falar isso, mas como tenho um sério problema para me controlar, está sendo um evolução).
 Estou começando a entender e ver esse meu vazio. Eu sinto raiva, eu sinto ódio, eu sinto realmente um vazio, não é que a Doutora tem razão?
 Sinto muita raiva sabe? Estava lembrando do meu casamento, um dos dois dias mais felizes da minha vida (o outro foi o dia que meu bebê nasceu), meu pai veio no meu casamento, fez o papel de pai, me levou ao altar, etc... Até aí o que é que tem né? Pois é, pior que tem...
 Meu pai nunca participou e nunca quis participar da minha vida, nunca foi à um encontro na escola, nem na homenagem de dia dos pais que fazíamos, nunca foi à uma formatura, nunca foi nos meu aniversários, nem no de 15, que é onde a moça dança uma valsa com o pai.
Pois é, ele veio no meu casamento, e sabe o que é pior, ele e a mulher querem confetes por isso. Grande coisa que ele veio ao meu casamento, não fez mais que a obrigação sabe? Só que tratam como se tivesse sido o feito do ano!!! Do século!!!
 Sinto raiva dele e da ausência que ele teve na minha vida, sinto raiva dele porque ele nunca aceitou o fato de eu ser uma moça, deixa eu explicar.
 Eu era uma moça, gostava de sair como todas as outras, tinha amigos e amigas como todo mundo, resolvi sair da cidade pequena e ir morar na capital, trabalhar, ganhar meu dinheiro, crescer como todo mundo.
E meu pai só sabia me criticar, hoje em dia eu "presto" para ele, porque sou casada, tenho filhos, só que antigamente era só crítica em cima de crítica.
Para ele eu sempre fui muito nova ou muito velha para qualquer coisa na vida. Tenho uma irmã mais nova que amo de paixão, hoje em dia ela está fazendo exatamente as mesmas coisas que eu fazia na idade dela e ele diz que ela é moça e tem que aproveitar a vida.
 E eu era o que afinal de contas? Porque eu sair e fazer as mesmas coisas que ela faz hoje em dia era uma absurdo? Sei que eu morei com ele um tempo, na época que eu fazia faculdade, entenderam, faculdade e sabe como era minha vida? Casa, faculdade de manhã, casa ao meio dia e não podia sair para mais nada, a não ser para acompanhá-lo no mercado, era o único lugar que eu podia ir, isso que já tinha dezoito anos e ficavam me enchendo o saco, no caso minha madrasta, porque eu não brincava com a minha irmã mais nova, sendo que eu tinha 18 e ela tinha 8, uma moça de 18 anos não quer brincar com uma criança de 8, certo? Hoje em dia somos grandes amigas, mas onde já se viu minha madrasta ficar metendo o pau em mim porque eu não brincava com ela, queria que eu ficasse de babá para ela, morei com eles uns 4, 5 meses e foi um inferno, porque nem programa de tv que eu gostava eu podia assistir. Não podia escutar as músicas que gostava porque era de "maconheiro".
 Sinto raiva dele porque foi tão negligente comigo, porque sempre me julgou tanto, porque fica enchendo meu saco que quer eu o visite e eu chego lá ele está bêbado e depois vem querer gritar comigo porque eu não quis ficar lá fazendo companhia para um bêbado e tenho ódio por ter de explicar que eu passei por isso, mas meu bebê não vai. Eu casei e escolhi um marido que nem beber bebe direito, isso eu escolhi para mim, agora esse cara negligente, julgador e bêbado eu não escolhi.
 Quando eu era criança eu chorava pensando em o que eu tinha feito de errado para ele me odiar tanto, pensando no que eu podia ser melhor para ver se ele começava a gostar de mim.
 Hoje em dia sou uma mulher feliz e realizada e ele gosta de mim e eu odeio ele mais ainda justamente por isso, quer dizer que tive que provar alguma coisa para ele começar a gostar de mim? Ele tem a audácia de dizer para mim que tive sorte de achar meu marido. Sorte? Sorte é ganhar na mega sena, isso é sorte, casar com alguém legal é merecimento, é construir uma relação no dia a dia, porque se você não cuidar do seu companheiro minha amiga, não existe sorte no mundo que constrói um casamento feliz.
Sinto raiva dele, sinto raiva da vida, do mundo porque eu queria que tudo tivesse sido diferente, queria ter sido mais amada pelo meu pai, mais valorizada, mais filha, será que é pedir demais?
Vejo que tenho raiva pelos textos que escrevo, pelo jeito que eu falo, parece que eu estou sempre brava e não é a verdade.
 Tenho ódio dele porque não aceitou que era uma criança, virei adolescente, depois uma moça...
 Ódio porque ele não aceitou as fases da minha vida, não entendia quando eu dizia que tudo seria na hora certa, tem a hora de ir para a escola, depois faculdade, fazer com os amigos, depois sair, ganhar a vida, trabalhar e depois casar e ter filho, mas tudo na sua hora. Tenho ódio dele dizer que tive sorte, eu não tive sorte, eu soube esperar a hora e a pessoa certa, simples assim, e foi no meu tempo e não tenho que o papaizinho negligente achou que seria.
 Sinto raiva dele porque foi minha vó que me sustentou na hora que ele que deveria me pagar a pensão e ele me tinha como uma rival, sempre tentando me lascar com minha vó, mãe dele, sempre tentando fazer de tudo para ela fazer menos por mim, sendo que ela simplesmente assumiu um papel que era dele.
Outro dia ele veio me perguntar se eu teria outro filho, falei que não sabia porque filho custa muito dinheiro e eu não vou ter outro filho e deixar faltar as coisas para meus filhos, por enquanto posso proporcionar tudo, mas se eu tiver mais filhos já não vai ser bem assim. Ele me disse, é filho custa mesmo, quer ver quando começar a pedir as coisas, Ipod, Ipad, etc..etc..
 Pensei comigo, de que filho ele está falando? Porque de mim não é, porque ele foi me dar um presente, ele mesmo, do dinheiro dele, foi no meu casamento, foi a primeira vez que ele me deu alguma coisa por conta própria. Que filho ele disse que custa muito dinheiro, ou espera , será que é só da minha irmã que ele está falando e ele esqueceu que eu também sou filha dele, que eu também tinha necessidades, que eu também queria as coisas e principalmente atenção dele, porque eu estou falando de dinheiro, mas não é com relação a dinheiro, e sim quero falar da ausência emocional, porque dinheiro nunca nos faltou, nunca nos faltou nada, não graças a ele, mas sim graças a mãe dele, minha amada vó.
  Esse vazio que me consome que me faz ter tanto ódio, tanta raiva, sinto raiva, queria falar isso tudo para ele, na cara dele, tenho vontade de gritar essas coisas para ele para ver se ele acorda para a vida.
 Nisso, paro e penso, para que? Que adianta, ele ainda vai vir com mil desculpas, mil coisas e não vai me entender mesmo e ainda vai achar que sou louca de pensar assim e vai gritar comigo do mesmo jeito de sempre.
 Ele não me quis, não me desejou e eu paguei o pato por isso, porque ele olhava para mim e falava, eu não te quis, você acabou com minha vida e eu ficava lá, sendo uma criança me culpando pelo fato dele não gostar de mim, achando que eu sempre estava fazendo tudo errado...
 Hoje em dia ele reclama porque eu vou pouco na casa dele, quando vou, vou embora logo, porque eu não ligo mais. Não tenho vontade, até porque ninguém mudou nada até hoje em dia.
 Esses dias minha irmã veio aqui em casa e eu não fui buscá-la no aeroporto porque meu marido estava trabalhando com o carro e mesmo que não estivesse eu não iria buscá-la porque tenho um neném de 1 ano e eu não pegar trânsito as 6 da tarde com minha neném, ficar 1 hora e meia no transito para buscá-la no aeroporto, sendo que ela vindo de táxi estaria no contra fluxo e no máximo em meia hora estaria aqui em casa. Meu pai ligou para saber e desligou na minha cara porque eu não busquei ela, a mãe dela me ligou no outro dia e ficou gritando comigo porque eu não quis ficar lá na casa deles aturando meu pai bêbado.
 Sinceramente, não tenho vontade nenhuma de procurá-lo... Por isso só procuro em ocasiões especiais para fazer meu papel de filha como deve ser feito...

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Escravizando pessoas

Aproveitando o tema da novela que acabou, Salve Jorge, sobre escravidão de pessoas, lembrei da história de uma conhecida minha, vamos chamá-la de Ana Alice (nome fictício para preservar a identidade da conhecida).
Ana Alice estava desempregada, procurando emprego e não achava, era aqueles tempos difíceis, tinha uma vaga para 40, 50 pessoas, dependendo da cidade. Ela morava numa cidade pequena, mas bem evolúida.
Foi quando um tio que morava na capital falou para seu avô que precisava de alguém para cuidar das lojas dele, pois ele estava com três lojas, um escritório e não estava mais dando conta das coisas. O avô comentou, ah, a Ana Alice está precisando de emprego, porque não ela?
O tio de Ana Alice a chamou para trabalhar nas lojas, podia morar na casa dele, ia ter seu salário e tudo mais.
 Ana Alice foi toda feliz correndo, arrumou suas malas, beijou a todos os irmãos e foi contente pensando: "Ah, agora minha vida vai mudar, vou conquistar tudo o que sempre quis, vou trabalhar, ganhar meu dinheiro e conquistar a liberdadee felicidade que sempre quis."
 Primeira semana, tudo lindo, maravilhoso, Ana Alice ficou responsável por duas lojas do tio, tinha que vender, limpar a loja, fazer caixa, etc... Nesse tempo ficou hospedada num apartamento que o tio tinha perto  das lojas, era temporada de verão.
Passou-se um tempo, o tio e a tia falaram que ia  matricular Ana Alice numa escola de comissários de bordo, que eles pagariam, ela ficaria hospedada agora na casa deles que era pertinho da escola, ela trabalhava de dia, passava em casa, tomava banho, colocava o uniforme e ia para a escola para depois ter uma profissão, esse curso duraria 4 meses.
A tia levou ela ao shopping, comprou um terninho, 2 camisas, um sapato, uma meia-calça e disse para Ana Alice que esse era o uniforme para ir, depois comprava outro, pois bem...Foi pensando nisso que comecei meu questionamento sobre a "escravidão", no caso na Ana Alice, não considero escravidão, pois é muito forte, tem máfia e etc..., mas não deixa de ser um tipo de escravidão? Vou explicar porque comecei a pensar nisso...
Ana Alice começou o curso e já estava lá a mais de 2 meses, e até então eles não deram 1 real sequer de salário para Ana Alice, alegando que estavam pagando a escola e que ela estava morando na casa deles. Só que ela disse que não tinha comida, comida assim para ea comer, ela meio que tinha que se virar, nem lembra como, mas eram raras as vezes que faziam comida, ou às vezes iam comer alguma coisa em alguma lugar.
Ela disse que uma vez pegou 5 reais do caixa para comprar um doce, para ela comer a tarde na loja e reclamaram... Só que assim, como alguém trabalha em 4 lugares diferentes, ela fazia trabalho de office boy no escritório às vezes tambèm e não é registrado, nâo recebe um 1 real sequer, é estranho né?
Depois ela me disse que ela não podia sair, trabalho, casa, casa, curso, casa, trabalho, ela falou que ia comer uma pizza com o pessoal do curso a tia disse que nunca que ela poderia sair de casa, era casa e trabalho e sabe quantos anos ela tinha? 20, pois é, qual o problema de uma moça de 20 anos sair com o pessoal do curso e chegar mais tarde em casa, diz que a tia veio com o papo que não deixava a filha sair, a Ana Alice que não, mas peraí, a filha diz que tinha 12 anos no máximo e a coitada da Ana Alice tinha 20. Idade que as pessoas costumam sair, se divertir, comer um pizza e ainda por cima ela não tinha dinheiro para ir na pizzaria, mas o pessoal já tinha dito que pagava...
Com o tempo a Ana Alice pediu para sair de novo, a tia disse que ela podia sair, mas não podia voltar para casa, se ela saísse, ela que arrumasse lugar para dormir, pois na casa dela ninguém chegava tarde.
Gente, isso não é um tipo de escravidão para uma pessoa? Vamos melhorar a palavra, acho que é abuso de poder nesse caso, né?
A Tia cobrava dela que ela tinha que ter dinheiro se quisesse as coisas, mas ela trabalhava para eles e nunca recebeu um real, de onde essa menina ia tirar o dinheiro gente do céu.
Ana Alice começou a sair com o pessoal, dormia na casa das meninas que faziam curso, isso que as meninas moravam ao lado da tia, que coisa mais patética, não é?
Enfim, Ana Alice se formou, voltou para a cidade dela, arrumou trabalho, depois foi morar fora, mas sozinha, recebendo, tem uma família maravilhosa e tudo deu certo, nunca virou comissária, isso foi idéia de dos tios, não tem nada a ver com ela...
Finalizando, ela trabalhava o dia inteiro, em três lojas diferentes e um escritório, ia para o curso a noite, comia o que tinha, nunca recebeu um real sequer de salário e não podia sair de casa para se divertir, isso é no mínimo abuso, né?