quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O que aprendi

 Eu e meu marido fizemos tudo certinho, namoro, noivado, apartamento próprio, casamento, uma boa renda, depois filhos, só não contávamos com uma coisa, criança ocupa um espaço do caramba e o apartamento tão perfeito que tínhamos não nos servia mais...
 Começamos a fazer as contas e apertar o cinto para podermos trocar nosso apartamento por uma maior em que tivesse espaço para todos nós...
 Fazendo as contas descobrimos tantos erros na administração do nosso dinheiro que fiquei até sem chão... Caramba, sempre achei que eu tinha que ter mais dinheiro para suprir minhas vontades e necessidades e acabei descobrindo que mais de 90 por cento do que eu achava que precisava eu simplesmente queria...
 E dá-lhe nós dois fazendo contas e planilhas e apertando daqui e dali e descobrimos que podemos sim trocar nosso apartamento por um maior, mas tínhamos que abrir mão das nossas pizzas final de semana, jantar fora 2 ou 3 vezes por semana, cinema, enfim, todo e qualquer luxo que qualquer ser humano quer, pode e deve usufruir... Tivemos que fazer uma escolha na vida... Abandonar um pouco nosso hedonismo, por um momento, para poder usufruir de um bem maior depois.
 Foi difícil pra caramba no começo, nossa, que desespero ter que fazer comida todo santo dia, logo eu que dizia que jamé ia cozinhar todo dia, somente quando eu quisesse e tivesse vontade. Descobri que eu não sabia cozinhar quase nada, mas que a prática, mesmo que forçada leva a perfeição, digo que ultimamente estou achando que fazer comida é até bem fácil, antes eu levava cerca de 3 hs para fazer um arroz e um bife, lógico que meu arroz e bife nunca foram simples, gosto sempre do melhor.
 Como foi difícil parar de sair todos os finais de semanas, ficar em casa no sábado eu achava um absurdo, mas achávamos que para sair de casa tinha que gastar, ledo engano, existem milhões de coisas a se fazer, ainda mais com filhos, que não custam nada ou quase nada...
E minhas roupas e sapatos e maquiagens e salão e as roupas das crianças, Ave Maria, Jesus, eu não queria abrir mão das roupinhas de marcas, mas calculando e calculando, descobri que eu era uma consumista desbaratinada que comprava com os olhos e se lascava depois na conta bancária...
 Eu achava normal passar cheque e depois ver como que pagava, eu precisava daquilo, até porque a maioria  das pessoas que conheço é assim, na verdade são poucas as pessoas que sabem realmente cuidar do seu próprio dinheiro. Eu achava normal fazer dívidas ao meu bel prazer, depois eu consigo pagar, sempre pensava, mesmo que eu atrase eu vou pagar, isso que está valendo.
 De tanto focar no apartamento novo que quero comecei a ver que ele valia mais que pares de sapato, que bolsas, que almoços desenfreados cazamigas. Não que eu não almoce mais com elas, mas agora faço tudo com mais ponderação e principalmente programação, já sei que vou encontrar tal amiga tal dia, deixo uma grana separada para esse almoço não virar prejuízo depois.
 Eu achava o ó essas atividades gratuitas, o legal era gastar, quanto mais caro, mais legal... Ledo engano o meu, graças ao fato de ter que economizar, comecei a caçar pela cidade atividades gratuitas para nós e também para ir com as crianças, como estou descobrindo coisas maravilhosas todos os dias...
 Depois que os bebês nasceram eu e meu marido ficamos no dilema de comprar outro carro ou não, e também graças ao apartamento que queremos decidimos ficar com um só por enquanto, só fazer as contas, mais gastos, temos uma só garagem, teria que alugar outra, mais um ipva, seguro, enfim, nem preciso entrar nos detalhes que todo mundo sabe quanto um carro custa, se engana quem pensa que carro só custa o preço da compra, ele tem manutenção e é bem alta. Como eu estou em casa com as crianças, conseguimos nos virar com um carro só, e nos dias que posso ficar com o carro, procuro atividades gratuitas para ir com as crianças, procuro na internet, na revista local e estou me esbaldando sem gastar nada além de um café com pão de queijo às vezes, geralmente almoço em casa antes de sair, levo algumas frutas e pães e comemos em casa depois quando voltamos, perfeito...
 Aprendi que a vida pode sim e deve ter glamour, coloco uma roupa bonita, faço uma maquiagem, um sapato (bonito não significa ruim de andar, existem bons, bonitos e baratos), as crianças estão sempre arrumadinhas, vou em lugares legais (que também não significa caro), vejo minhas amigas, às vezes elas vem aqui em casa quando meu marido viaja a trabalho, assim podemos conversar mais coisas de mulheres, sou uma esposa, mãe e dona de casa, mas com um toque de glamour e economizando porque glamour mesmo vou ter no apartamento maior com quarto para todos os filhos e visitas e para nós mesmos.
 Descobri que eu sim um pouco fútil, apesar de ler tanto, de escutar tanta música clássica, de conhecer um pouco de tudo eu era deslumbrada com as coisas.
 Vi que tem coisas na vida muito mais gostosas e muito mais importantes do que um vestido que está na última moda e que custa a parede do meu apartamento novo, que custa aquele tapete persa que sempre sonhei em ter, até o tapete nem é tão fútil, porque descobri nas minhas andanças sem gastos que eles tem toda uma história, vi que o material é realmente diferente...
 Nessas de economizar e ficar com o carro só de vez em quando eu preciso ocupar minha cabeça e exercitar meu corpo, descobri que só não emagrece depois da gravidez quem não quer, porque falta de dinheiro não é desculpa. Como fico mais tempo em casa e com as crianças, eu estou aproveitando para ler mais, aprender mais sobre várias coisas que antes quando eu trabalhava fora o dia todo eu não tinha tempo de ver.
 Não tenho como ir a academia agora, na verdade nunca gostei muito de academia e sempre achei uma dó pagar para ir  um lugar fechado ficar puxando ferro, nada contra quem vai, mas eu prefiro mais atividades ao ar livre, esportes, e yoga. Nem yoga eu consigo mais ir, não tenho com quem deixar as crianças, como eu já citei não tenho ninguém aqui, somos só eu, meu marido e meus filhos. Acham que fiquei me lamentando e dizendo em como a vida é difícil e que eu ia ficar gorda porque não posso ir a academia?
 Não, investi num carrinho daqueles de 3 rodas que é forte para caramba, sim, investi, porque foi um investimento e faço tudo com as crianças e o carrinho, caminho quase todos os dias por quase uma hora e para não ser cansativo eu faço as coisas que preciso fazer tudo a pé com as crianças e o carrinho, ele tem uns compartimentos embaixo que cabem um monte de coisa, vou a padaria, ao banco, ao sacolão, à feira, almoço nos restaurantes aqui perto, comprar alguma coisa no comércio aqui perto, enfim, o que eu poderia fazer de carro, mas é viável ir a pé, eu vou a pé. Perdi 27kg dos 25kg que ganhei na gravidez...
 Nessa fase de economia forçada estou aprendendo a ser uma pessoa melhor, deixando o consumismo de lado e vendo que realmente tem coisas que nos empurram como se fosse nossa última necessidade e agora eu vejo que não era tão importante assim, que existem coisas muito mais importantes na vida, que preciso melhorar como ser humano ao invés de me preocupar com o que comprar hoje, amanhã, ano que vem. Precisava melhorar meu humor, minha tolerância, minha paciência, tantas coisas, sou tão imperfeita, e isso estou aprendendo só economizando, pois tendo que ficar mais em casa, tendo que esperar, pois somente com o tempo conseguiremos comprar o apartamento, não vai cair do céu, é no dia a dia, economizando aqui, ali, lá, abdicando de coisas todos os dias, a nossa tolerância, o nosso senso do que é importante, vai mudando, vamos aprendendo.
 Sei que depois que conseguirmos nosso objetivo vamos continuar do mesmo jeito, decidimos nunca mais esbanjar na vida, comecei a achar feio quem esbanja, quem tem telhado de vidro, que compra as coisas para mostrar que tem, faz festa para mostrar para os outros que está bem, mas a conta está negativa, comprou um telefone última geração em 500 vezes, aprendi que isso não é bonito, ter coisas não é bonito. Só é bonito quando está pago, quando não faz falta na sua mesa, quando é real e enraizado. Aprendi que nada vem da noite para o dia, que o que é bom, estruturado, leva tempo para se construir, para criar raiz e ser bem feito. Aprendi que quero manter o que já tenho sempre e não quero dar trabalho a meus filhos na velhice, que quero dar o melhor para eles, estudo, estrutura, não coisas e não existe melhor ensinamento que pelo exemplo. Que se quero uma segurança na minha velhice, tenho que começar desde já, desde meus inta, que a vida passa rápido e nessa de querer aproveitar cada centavo como se fosse o último a velhice pode chegar sem construirmos nada...


Como é difícil ser mãe

 Amar os filhos incondicionalmente é fácil, é automático, vem do coração, mas criar e educar é a parte mais difícil.
 Como criança dá trabalho, santo senhor do céu, choram por tudo, absolutamente tudo.
 Não querem comer, não querem trocar a fralda, não deixam escovar os dentes, pentear os cabelos. Não sei o que é comer uma refeição sem ser interrompida desde que nasceram, nossa, tem horas que penso que vou explodir...
 Como é difícil ajoelhar todos os dias no chão e ficar catando a comida que eles jogam tudo só por diversão, vc os coloca na cadeirinha, começa a gritaria, não quer arroz, não quer frango, não querem nada... Só fico com uma baita dor de estômago...
Só que são apenas crianças, não fazem nada de propósito, estão começando a descobrir a vida e estou aqui para ensinar e educar e dar amor.
 Porque não come a comida? Faço milhões, zilhões de comidas diferentes e tenho que jogar tudo fora todo dia...
 Vou num restaurante e só como comida gelada e olho para os lados e vejo as pessoas abismadas com os pequenos tiranos que tenho, que não comem nada, gritam, jogam tudo no chão, começam a chorar porque eu ofereci um pedaço de pão, como se eu estivesse dando veneno.
 A cara das pessoas é a pior, porque me olham e meus filhos chegando veem uma mãe linda, bem arrumada, toda feliz, aquelas crianças lindas, até sentarmos e eu tentar colocar a primeira garfada de arroz na minha boca, é só eu tentar para começar o berreiro, o chão, chão, chão, mamãe, mamãe, mamãe, mamãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!
 Olho para os lados o restaurante inteiro nos olhando, não sei se achando que sou péssima porque meus filhos são muito mal educados, ou sou uma bruxa jararaca que não tem o direito de ficar séria porque estou morrendo de fome e só quero enfiar um pão goela abaixo...
 Como é difícil gente... Minha avó sempre dizia que só entendemos nossas mães quando viramos mães e é a mais pura verdade.
 Se uma pessoa não tem estrutura psicológica suficiente para ser mãe e ter paciência e compreender que é passageiro ela enlouquece mesmo, é facinho facinho...
 Vamos lá que nem sei como consegui escrever esse post, porque já tem mamadeira para dar de novo, fralda para trocar, fruta e tudo isso escutando o berreiro sem fim, pra que berrar tanto???????