segunda-feira, 12 de junho de 2017

Dia dos namorados.

 É dia dos namorados,marido saiu cedo para trabalhar, levanto,café da manhã para a filhota, prepara lancheira, arruma roupa, chama 965 vezes para se trocar,para ir logo, colocar o tênis. Ela não me obedece, é terrível,não consigo fazer ela me obedecer.
 Descemos no prédio, coloco no carro, levo para a escola, volto para casa para comer, até teria coisas para resolver na rua, mas não tenho dinheiro para almoçar fora. Nosso pagamento vem, paga as contas que dá para pagar, faz uma compra no mercado e o resto do mês passo sem um puto. Enquanto estiver pagando esse financiamento o dinheiro não vai dar.
 Chego em casa, refogo uma carne moída, descongelo um arroz integral e um purê de batatas com molho de beterraba. Bato um suco de melancia com uma fatia de gengibre para desintoxicar o tanto de vinho de quinta que tomei no final de semana. Não,não deixo de tomar meu vinho no final de semana, mas não pago mais de 15 reais numa garrafa, descobri que dá para comprar nesses Atacadões um vinho razoável de beber com preço honesto.
 Tiro roupa da máquina, estendo, coloco mais roupa nela,lavo a louça, limpo o fogão, pego roupa do closet, já são 15:15 e eu ainda não comi nada, de manhã estava enjoada e atrasada e só tomei café preto.
 Faço meu prato, coloco um filme no now "Como eu era antes de você, como assistindo o filme, exagero na porção,mas estava em jejum, então... Depois de comer aquela preguiça mega blaster, estou exausta do final de semana,onde fico mais cansada que durante a semana, marido e filho dentro de casa o final de semana todo é de enlouquecer qualquer um.
 Mãe, amor, maaaaaaaaae, amooooor, maeeeeeeeeeeeee, amor, mainnnnnnnnnnnnnnnnnnn, amorrrrrrrrrrrrrrrrrrrr, esse final de semana ela estava particularmente agitada, parecia que tinha engolido um rádio.
 Estou azeda pois já sei que meu marido não vai se dar ao trabalho de me dar uma rosa murcha, o que realmente aconteceu. Resmungo com as amigas via whats, me lembram que amanhã tem yoga, já me ajuda a recuperar o humor.
 Já são seis horas e preciso buscar minha filha, a professora do ballet reclama que ela estava terrível e não obedece, tudo tem que falar mais de 15 veze,falei, sério que só hoje, comigo é sempre assim, vou conversar com ela.
 Chego em casa, todas as amigas dizendo o que vão preparar, não vou fazer porra nenhuma, muito desaforo, já tenho que fazer café da manhã, almoço e janta todo santo dia, todo, inclusive sábados, domingos e feriados. Como o que tem como numa segunda normal.
 Banho na filhota, ela quer comer bisnagas, eu estou sem apetite e azeda. Marido chega com as mãos abanando, óbvio e perguntando o que tem para comer. Mandei esquentar a carne moída que fiz para o almoço.
 Fui tomar banho porque eu também preciso de banho, filha fica fazendo show de marionetes enquanto tomo banho, mãe,olha para mim, mãe,olha, olha mãe,mãe, olha, olha. Legal filha, mamãe está tomando banho, posso? Ah, olha mãe, a sereia voando, olha o "hitotótamo", olha, olha, olha olha. O pai está muito cansado porque chegou do trabalho e não pode entretê-la por cinco minutos para eu tomar um banho sossegada.
 Coloco ela na cama, antes a conversa sobre o ballet, se quer continuar ou não, se não quiser não tem problema, mas ela quer ser bailarina para sempre, então tem que obedecer, pois eu sou sua mãe,mas a professora não tem obrigação de aguentar desobediência, isso que o ballet dela é bem brincante, para kids mesmo, nada carrasco.
 Ela dorme, estou puta da cara porque nunca imaginei na vida que minha vida seria isso, finais de semana trancada em casa, sem dinheiro para nada, comendo o básico do básico, sobrevivendo. Foi uma escolha que fiz, mas está doendo muito viver com ela. Vai passando os finais de semana e eu sinto que estou perdendo a vida,que ela está passando e eu não estou aproveitando. Estou pagando mas contas, uma boa escola, um bom apartamento, mas quando começo a viver de verdade? Minha casa ainda está do jeito que peguei, não fiz marcenaria sob medida, não reformei, pintei nem nada, cortinas feias e velhas, cama velha, tudo com dificuldade.
 Estou azeda, queria uma noite romântica mesmo que fosse em casa, mas cansada de ter que providenciar tudo sozinha, esperando um mínimo gesto de que se importa.
 Ah te amo, você é minha vida, o mesmo discurso sempre, sei, mas queria um pouco de atitude, li muita Jane Austen e ainda acredito em romantismo e cavalheirismo, mas não escolhi alguém assim, tenho que aceitar que dói menos.
 Estou eu aqui escrevendo e ele na sala vendo NBA, me rodeando, mas sei lá, preciso de romance, sou tão besta, porque querer isso. Fácil, ele  casou comigo, construímos uma família, temos uma casa, pra que romantismo não é mesmo? Estou querendo demais.
 Estou sendo irônica, mas é assim que vai ser ou eu aceito que é assim e quando eu estiver afim eu faço às vezes do cavalheiro ou vou continuar passando ano após ano, data após data decepcionada.
 É tudo comercial, uma palhaçada, data para incentivar o comércio? Pode ser, mas custa um pouco de romantismo?

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