terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ajudar ao próximo...

 Essa semana eu tomei um tapa na cara daqueles bem dados, não no sentido literal, estou em estado de choque até agora e ainda não consegui me recuperar.
 Fui à igreja como vou toda semana, mas fui levar meu dízimo e sentei lá e chorei, chorei, chorei questionando Deus do porque Ele tinha esquecido de mim, porque nada está andando na minha vida, porque está tudo parado, estou esperando por algo que está demorando tanto, não aguento mais essa dureza, essa falta de dinheiro. Cuido dos meus filhos e da minha casa, estou sem dinheiro, sinto falta de ter minha independência, tudo isso está me fazendo me sentir uma onça enjaulada, tudo tão difícil, blablabla, aquelas baboseiras que vocês não aguentam mais escutar de mim.
 Pois bem falei, Deus, e aí, porque me abandonasses? Saindo da igreja uma mulher mais ou menos da minha idade me aborda, devia ter uns 40 kg e usava bengala. "-Moça, olá, eu sou HIV positivo, mas não precisa ficar com medo que não vai pegar nela (apontando para minha pequena)."
 Nessas horas eu agradeço por ser uma pessoa esclarecida e disse para ela, não moça, eu sei que não pega, não tenho medo, pode falar. Dizer que no mundo de hoje, em pleno século 21 as pessoas ainda tem preconceito com uma pessoa doente, ela está doente, não pega pelo ar, por olhar nos olhos dela, por bater um papo. Ela tinha cheiro de doença, estranho né, mas ainda sinto o cheiro de pessoa doente que ela emanava. Ela me disse que tinha uma filha pequena que também era HIV positivo, que o marido tinha passado a doença porque traiu ela. Ela precisava de fraldas para sua filha pois as de pano estavam assando a pequena, se eu podia ajudá-la.
 Sou muito sentimental e sensível e isso não é uma coisa boa, fico dias abalada quando me deparo com essas coisas e sempre tento ajudar a todos que me pedem quando posso. Fico com dor de não poder fazer mais, mas não sou política, nem famosa, nem rica. Se eu fosse qualquer uma dessas coisas com certeza faria muito mais. Ninguém merece não ter um prato de comida, uma fralda, ou uma água. Como não sou nada dessas coisas eu procuro ajudar da forma que posso do jeito que dá.
 Falei para ela ficar tranquila que eu tinha  pacotes de fraldas em casa com 42 unidades sobrando pois meus filhos não usam mais fralda, para ela me dar o endereço que eu ia mandar. Falei, agora, agora eu não tenho como fazer nada, preciso ir para casa, cuidar das crianças, fazer janta, cuidar do marido, mas que era para ela ficar em paz.
 No domingo eu saí, fui fazer uns exames de rotina, o marido ficou em casa com as crianças e aproveitei para levar as fraldas pessoalmente no endereço indicado. Eu já estava em choque pela situação da mulher, eu lá me lamentando da vida e tomei um tapa desses, não tenho como reclamar, eu tenho saúde, uma família estabilizada, filhos perfeitos, nem sou merecedora de nada disso pois tem gente que tem menos que eu. Quando eu fui entregar as fraldas eu vi a real situação, entrei na porta do inferno, se existe um inferno na terra é o lugar que essa mulher mora. Se alguém chegou ao fundo do poço e está realmente precisando de ajuda é ela. Não sei da história direito, como foi parar ali, o que aconteceu na vida dela de verdade. Sei que ela está doente, a filha também e ela precisa de ajuda. Fiz questão de ir ao lugar porque queria entregar na mão dela e saber se eu poderia fazer mais depois. Era pior do que eu pensava. Ela ficou doente, foi excluída da sociedade, pois é doente e pobre, foi desprezada por todos e agora mora num "hotel" com cine privê. Um lugar num prédio que parece abandonado. Jamais poderia ter um hotel ali, ainda mais com cine privê, como alguém pode entrar num lugar sujo daqueles para se hospedar, para fazer qualquer coisa e ainda mais morar? Um lugar desses que não temos coragem nem de passar na frente, a rua até que é movimentada, mas é numa rua que parece perigosa, foi o único lugar que a aceitou para morar.  Ela não trabalhar, lá ela recebe as refeições, não sei como paga lá, se é alguém da família, se ela ajuda no trabalho de lá, mas também deve ser uma bagatela pois o local além de parecer abandonado é sujo e fétido, mas o fato é de que ela mora lá, olhei a porta, subi os muitos degraus, olhei na portaria, uma janelinha com grades onde uma senhorinha me deu bom dia, perguntei da moça, se ela morava lá mesmo, se tinha uma filha, ela me confirmou, falou que sim, que ela mora lá e a filhinha com a outra filha mais velha, que agora ela ficava por ali, não entrei em mais detalhes, só fui ajudar, não tenho o direito de querer saber de tudo também, a mulher recebeu as fraldas, disse que eu podia ligar mais tarde para confirmar, que naquele momento ela estava descansando.
 Saí de lá arrasada, como pode uma pessoa ter que ir morar lá, não é um lar, não é uma casa, tendo que ficar longe da família, morando naquele lugar deprimente, com cara de sujo, quando ela me abordou disse que era uma pensão, mas não é uma pensão, é um lugar triste e pesado. Fiquei me arrastando até ontem a noite por causa de lá.
 E eu reclamando da vida. E eu me lamentando. E eu me achando a pior criatura do mundo. Pior é meu egoísmo que depois de ver uma situação dessas que é para mudar qualquer pessoa no planeta, qualquer um tem a obrigação de se tornar uma pessoa melhor depois de presenciar isso. Ainda assim meu ego ainda quer reclamar e falar, ah, mas isso jamais aconteceria com você, tenho o direito de me lamentar porque não está tudo perfeito do jeito que eu acho que tinha que estar.
 Por isso eu sempre gosto de ajudar ao próximo da maneira que posso. Morando na capital sabem como é, existem muitas pessoas necessitadas que pedem ajuda na rua. Não costumo dar dinheiro, até porque eu nunca tenho, mas sempre ajudo da maneira que dá.
 Sempre tenho bolachas, água e água de coco na bolsa, pode parecer besteira, mas já aconteceu de me abordarem, acho que tenho cara de boazinha de boba ou de rica, e eu dizer, moço, tenho essas bolachas das crianças, elas já estão alimentadas, eu saio e vejo a pessoas rasgando aquele pacotinho de bolacha com tanto gosto, comendo com tanta vontade. Sei que não é nada, mas às vezes uma pessoa precisa somente de uma água e uma bolacha para ter disposição.
 A igreja faz algum evento social, procuro participar ou doar algum valor para comprarem cestas básicas. Alguém precisa de roupas ou sapatos e eu tenho sobrando, passo tudo para frente, não vendo, sempre faço doação, não preciso vender e tem pessoas que não podem comprar, mas todos precisam de roupas, ninguém pode andar pelado, se eu tenho a mais, eu doo sempre.
 Uma amiga teve um filho com espinha bífida, vai ser difícil ele andar um dia, desde que nasceu está fazendo tratamento, fisioterapia e tudo mais. Ela é trabalhadora e batalhadora, mas é muito pobre e não tem condições de bancar nada disso, quando nasceu o neném, me doeu porque eu queria fazer alguma coisa por ela e não podia, mas descobri que podia, fiz umas ligações, uns contatos, mandei uns e-mails e fui atrás de tratamento em uma associação de assistência à crianças, consegui a vaga para ela e o filho, está sendo bem tratado. Até hoje não pude ajudá-la com dinheiro, mas fiz o que pude.
 Muitas vezes as pessoas precisam somente de uma atenção e de um olho no olho. Aconteceu coisas parecidas com filhos de outras amigas, pessoas precisando de ajuda financeira, eu queria ir e levar presentes, mas não posso comprar nada nem para mim, como vou gastar com presentes, vou apenas lá e me coloco a disposição para fazer alguma coisa fisicamente que estiver ao meu alcance, a pessoa me responde que só o fato de ir ver e dar uma força já é o suficiente e realmente é isso.
 Muita coisa muda dentro de nós quando de alguma forma tentamos ajudar o próximo, tem gente que acha que tem que ter grana, tem que fazer doações estratosféricas, mas eu acredito que nenhum dinheiro do mundo é melhor que qualquer gesto mesmo que pequeno feito de coração.
 Tem vezes que o que alguém precisa eu tenho sobrando. Alguém precisa de arroz e eu tenho dois pacotes, alguém precisa só de uma prato de comida, de uma palavra de conforto, de uma cesta básica, de uma oração, de uma bolacha, de uma água ou de um bom dia.
 Outro dia tinha alguns familiares meus estavam aqui e fomos passear e passamos em frente a uma comunidade. Um tio meu ficou com medo, aqui deve ser perigoso, nós aqui no carro e eu expliquei. Não tio, são pessoas pobres, somente isso, eles não fazem mal a ninguém, são somente pessoas com pouco dinheiro, diferente do senhor, mas são pessoas trabalhadoras, que estão buscando o seu pão, não vão fazer mal a ninguém. Que preconceito é esse, de onde eu venho tem muito disso.
 Toda vez que eu me deparo com uma situação dessas, uma pessoa numa situação pior que a minha eu agradeço pela minha vida. Reclamo horrores e sempre que reclamo me aparece alguma coisa, essa última moça foi a pior, sempre aparecem as oportunidades de enxergar a vida de verdade. Reclamo, mas podia ser pior, tem gente numa situação muito pior. Não sabemos o que levou aquela moça a chegar aquela situação, não importa, o importante é que existe gente que está muito pior que eu. Que sou uma privilegiada porque tenho saúde, tenho uma família, tinha fralda, tenho comida, tenho roupas, tenho uma vida linda que construo todos os dias.
 Sempre procuro enxergar a realidade, por isso que fazer caridade, ajudar ao próximo é tão benéfico, vemos que nossa situação é muito melhor que de muita gente, se eu posso ajudar alguém de alguma forma é porque eu tenho mais daquilo do que aquela pessoa naquele momento, a situação podia ser inversa.
 Gratidão sempre, principalmente quando se ajuda ao próximo, é a melhor forma de honrar outros filhos de Deus e de se sentir grata e plena por tudo que temos...

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