quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Minha mãe

 Sempre tive um ódio mortal da minha mãe, convivo com ela normalmente, pois acho que é o certo a se fazer, mas nunca me conformei com o que ela fez comigo na infância, ela foi muito má...
 Todas as estórias de princesa contam sobre a mãe querida que morreu e a madrasta má vinha e acabava com a vida da princesa, mas no meu caso eu tive uma mãe má e invejosa...
 Me escravizou, me fazia faxinar toda a casa, lavar a roupa, passar, cuidar das minha irmãs mais novas, não me dava comida direito e ainda por cima catava todo o meu dinheiro, isso desde sempre, desde neném.
 Ela sempre se fez de vítima para os parentes e vizinhos dizendo que não tinha dinheiro para comprar comida, que éramos miseráveis, mas a verdade era que ela era preguiçosa e relaxada, que enfiava todo o nosso dinheiro não sei onde e depois não comprava carne, arroz e feijão e dizia para os outros que não tinha dinheiro para comprar, só para ver se alguém dava mais dinheiro para ela.
 Meu pai é outro, é bêbado e alienado, mas é podre de rico, vive de renda, até por isso que é alienado, mas nunca deixou de nos dar dinheiro. Ele compensava a ausência nos proporcionando dinheiro. Ele nos deu uma puta casa para morar no centro da cidade, pagava a pensão dos 4 filhos, colégio particular, o mais caro cidade, todo mês mandava um "rancho", que na minha cidade significa que é uma compra de mercado e ainda nos dava toda semana um dinheiro para "comer cachorro quente", esse dinheiro dava para comprar vários cachorros quentes, coca cola e ainda um sorvete, pois ele não queria que nos faltasse nada financeiramente, a ausência de carinho ele achava que era bobagem...
  Enfim,  minha mãe tinha tudo isso e achava pouco, falava para todo mundo que éramos miseráveis, que ela não dava conta de pagar o colégio particular (que nunca foi ela quem pagou, sempre foi meu pai), que não tinha comida em casa (não tinha porque ela gastava o dinheiro e depois não podia comprar, decerto, porque dinheiro eu sei que tinha), me fez trabalhar com 13 anos de idade numa fábrica de panos de prato dizendo que precisava de dinheiro, enquanto ela ficava em casa de bunda para cima dando para o namorado da semana (cada semana tinha um macho diferente dentro de casa). Nunca vi o pagamento da fábrica de paninhos, nunca vi o pagamento da loja de roupas na qual trabalhei 3 meses aos 14 anos quando ela me tirou do colégio e me fez estudar a noite, nunca comi meu cachorro quente que meu pai deu, fora que eu ia de tênis furado para a escola, porque o tênis que o pai me deu ela tinha dado para algum "irmão" das inúmeras igrejas evangélicas que ela frequentava, ela ia na igreja que mais desse lucro para ela, as pessoas das igrejas eram puras, ficavam tocadas com as estórias que ela contava e ajudavam enquanto ela me explorava nos serviços domésticos e me espancava todo santo dia com a desculpa de que eu tinha feito alguma coisa errada.
 De vez em quando dava uma crise nela e ela resolvia trabalhar, ia limpar chão e passar roupa nas casas das minha colegas de classe e dizer que éramos muitos pobres, nada contra a pobreza, nada contra quem realmente precisa fazer isso para sobreviver, mas não era nosso caso, tínhamos tudo, ela não sabia e não queria administrar... Dinheiro na mão é vendaval...
 Eu andava igual uma mendiga, ia para a escola de roupa rasgada, suja e velha e eu não entendia porque sendo que uma semana antes meu pai tinha feito uma puta compra de roupa e nos dado, depois quando eu ia ver tinha alguma irmãzinha da igreja com minha roupas e eu feito uma maltrapilha passando vergonha. Só que peraih, eu também era filha de gente rica e estudava em colégio de gente rica e frequentava lugares de gente rica, tinha alguma coisa mal contada certo??
 Nessa viagem para visitar a family fui na casa da minha mãe e quase tive um treco, a casa dela com quilos e quilos de pó, merda de cachorro dentro de casa de meses, sim, meses, não de um dia para outro, não tem como andar no quintal de tanto cocô, ela fez comida, tive nojo de comer, porque veio pêlo, pó e cupim junto no prato.
 Peguei um balde, vassoura e pinho sol e comecei a tirar a sujeira da casa, porque não tenho dinheiro para pagar alguém ou dar outra casa para ela, mas tenho força e juventude e posso limpar um chão sem me sentir humilhada, mas quando comecei a cavucar a casa, que não dava nem para andar de tanta tranqueira, comecei a entender. Ela tem algum problema.
  Fuçei as coisas e descobri que ela está catando lixo e levando para casa porque pode precisar um dia, tem presentes lá para mais de 10 anos, só que ela não vai dar conta de dar esses presentes e vão vencer o prazo de validade, ela vende roupas e tem roupa lá para mais de 10 mil reais e ela fica reclamando que não tem dinheiro para pintar a casa por isso abriu mão.
 A casa está intransitável e pobreza não é desculpa para porquisse, o que tem a ver ser pobre com não lavar uma roupa, não passar uma vassoura e não tirar o pó da casa.
 Eu gritei com ela e disse que pobreza não é desculpa para ser porco e ela me respondia, eu tiro o pó hoje amanhã já está empoeirado de novo por isso não tiro. Pó tem que tirar todo dia, chão tem que varrer todo dia.
 Pior que lembro quando eu era novinha que ela falava mal de mim para toda a família dizendo que eu era uma porca, que não sabia ariar panela, que não sabia coarar uma roupa, que passava roupa muito mal, e aqueles hipócritas daqueles tios metendo o pau em mim dizendo que eu tinha obrigação de fazer comida para meus irmãos mais novos, que eu tinha que cuidar da casa. Eu não tinha que fazer nada eu sempre sustentei ela e os filhos dela que eram meus irmãos e não meus filhos, eu era uma filha também, era empregada dela de graça e ainda por cima ela nunca me deixava sair de casa para nada, nem para estudar no colégio, quando ela sabia que tinha prova, ela dizia que eu tinha que primeiro limpar o banheiro de cabo a rabo para ai poder estudar. Chegava o dia da prova eu bombava e todo mundo me chamava de burra, só que eu não era burra e nem nunca fui, essa mulher não me deixava estudar porque não queria que eu fosse alguém na vida.
Isso tudo desde sempre, lembro eu ariando banheiro aos 5 anos de idade e apanhando dela porque deixei meu irmão de 4 anos botar o dedo na tomada que eu tinha que ser responsável e cuidar dele enquanto ela estava passeando e nos deixava trancados dentro de casa...
 Eu precisava ser cuidada, amparada e ela tinha que tomar conta de mim e não eu dele.
 Lembro quantas vezes fui para o colégio com fome porque ela dormia até meio dia e tinha preguiça de fazer almoço para nós. Fomos criados a base de pirão e polentina com leite, açúcar e canela...
 Ela virou uma acumuladora, está catando lixo na rua, não consegue passar um pano na própria casa e não dá comida para o marido que é deficiente físico, coitado... Pior que ele enxerga mal, mas trabalha, não gosta de ficar parado.
 Pelo menos eu vi que ela tem algum problema psicológico, nunca foi pessoal, meus irmãos também tem seus próprios demônios em relação a ela e vi que não foi culpa minha. Sempre questionei o que foi que eu fiz para ser criada por ela, porque não nasci em outra família, porque comigo, porque, porque, porque....
 Porque ela é problemática, nem podia ter tido filhos, eu parei aqui por acidente do destino ou para cumprir alguma missão na vida. Tenho que perdoar porque ela não sabe o que faz.
 Falei com algumas pessoas para ver se orientam ela, pois eu não posso largar meu marido e meus filhos para cuidar dela, fiz o que eu podia fazer, recolhi o que foi possível de lixo, mas para arrancar tudo levaria pelo menos uns 10 dias, expliquei que ela deve ter algum problema de cabeça. Lógico que um dia se ela estiver na sarjeta eu não vou abandoná-la, mas vai ser por pura obrigação.
 Pelo menos eu entendi e sempre que fico com ódio dela por algum motivo eu lembro disso, não foi só eu que ela fez sofrer nessa vida, agora ela está se aproveitando até do marido deficiente, ela pega tudo o dinheiro dele, não compra comida para ele e deixa a casa deles um lixão, até a casa da mãe Lucinda, que era dentro do lixão era mais limpa que a dela.
 Agora vou tentar seguir minha vida, arrancar esse ódio no meu coração, porque na verdade eu tenho que sentir é pena...

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