quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O que vou ser quando crescer?

 Essa é uma pergunta que tenho até hoje com 35 anos, já cresci e ainda não sei direito o que quero ser.
 Sempre trabalhei muito a vida toda, mas sempre trabalhei para poder me sustentar e não fazendo algo que eu gostava.
 Quando fiz o vestibular com 16 anos resolvi que eu era entendida de tecnologia, na época era muito difícil alguém ter acesso a isso e entrei para uma faculdade na área de tecnologia, lógico que não deu em nada, falei com minha família que eu tinha errado de curso que queria fazer outra coisa, acabou que minha família ignorante não compreendeu que eu queria trocar de curso, fizeram mil ameaças e chantagens, que eu só poderia estudar isso pois era o que eu tinha começado, que eu dançava conforme a música deles ou era deserdada, enfim, mandei eles as cucuias e fui trabalhar.
 Depois disso apareceram os meus tios que me levaram para trabalhar de graça para eles por seis meses, me inventaram um curso idiota para eu fazer, fiz o curso contrariada, mas pensei, pelo menos faço alguma coisa, trabalho na área para ter um salário e pago alguma faculdade que gosto, mas também não era o que eu queria, mil dificuldades, não deu em nada.
 Com 20 anos virei modelo, sem querer também, precisava trabalhar, apareceu oportunidade de fazer degustação de café no mercado, fui felizona, pagava bem, de lá me chamaram para fazer propaganda de energético em balada, eu estava na época de querer sair e tinha acabado de conseguir minha liberdade, foi maravilhoso, balada de graça, ganhando dinheiro, conheci todas as baladas e cidades possíveis, de lá me chamaram para desfilar, fazer foto em catálogo, outdoor, mudei para a capital e fiquei até os 25 trabalhando como modelo e fazendo eventos, porque só de modelo eu morreria de fome, kkk, só parei porque tinha 25, achei que estava velha para o negócio e eu queria trabalhar como gente grande.
 Depois tive oportunidade de estudar novamente e fui fazer uma faculdade na área da saúde, tipo, me fudi, estou devendo 5 mil lá até hoje, com o nome sujo, com algo que naquele momento até achei que poderia ser, mas agora vejo que não era para mim, na época só parei porque não dei conta de pagar, eu gostava realmente do curso, mas agora depois de tantos anos passou o tesão.
 Fui trabalhar em loja, escritório, para me manter e poder pagar minhas contas, mas sem saber o que ser quando crescer. Depois casei, tive filhos e agora estou numa fase de cuidar dos filhos e quem sabe me reinventar e descobrir o que realmente quero para a vida.
 Estou trabalhando em algo que gosto faz alguns anos, trabalho com moda, sou representante e só não estou conseguindo trabalhar mais pois dei um tempo para cuidar dos meus filhos, hoje mesmo deixei de ir visitar o ateliê de uma cliente pois não tenho com quem deixar as crianças. Agora nesse momento só atendo minha carteira de clientes antigos, sem pegar novos, pois não tenho como atender a demanda, farei isso daqui 2 anos quando eles estiverem na escola, com prazer e sem problemas.
 Estou nessa crise que vocês sabem bem, infeliz, de mal com a vida, ansiosa ao extremo, nervosa e cansada e quando converso com minhas amigas elas dizem que é porque estou me dedicando somente ao lar e filhos e parei de trabalhar e por isso estou assim. Não concordo com elas, pois é só uma fase que eu escolhi passar, é uma experiência que eu queria ter, eu queria ficar com meus filhos, eu queria saber o que é ser mãe, o que estou descobrindo que não é nada fácil, que criança dá muito trabalho, que é a coisa mais difícil desse mundo. É só um período e acho que as amigas, o mundo e o marido tinham que respeitar uma mulher que decide parar de trabalhar para cuidar dos filhos, porque alguém tem que cuidar, se eu trabalhasse fora teria que pagar alguém para fazer isso por mim e eu tenho certeza que esse alguém não faria o mesmo que eu. Eu que sou a mãe às vezes não tenho paciência, tenho vontade de sair correndo, como uma pessoa completamente estranha que não sei quem é direito, como foi criada, afinal não tenho nenhum parente aqui e teria que contratar uma estranha, poderia ter paciência com meus filhos e não maltratá-los? Eu apesar da impaciência só sento e choro, não maltrato meus filhos e os estranhos?
 Fora as mães que deixam seus filhos com suas mães e sogras,que já são velhinhas. Sei que muita gente é obrigada, pois melhor deixar os filhos e trabalhar para trazer comida para casa do que passar fome. Eu acho uma judieira com as velhinhas, eu que sou nova não dou conta, quem dirá uma senhora que já fez sua parte no mundo e tem que fazer de novo com os netos? Dizer que elas gostam porque é o neto? Sei lá, utopia, vergonha de dizer a verdade...
 Sei que qualquer coisa que eu fizer depois desses anos vai ser fichinha perto do que é cuidar de filho, marido e casa, mas é somente um período, vai passar, ainda bem, porque não existe nada mais podante, que te tire mais a liberdade do que casar e ter filhos.
 Entendo que minhas amigas dizem exatamente isso, que ser mãe e esposa acaba com nossa identidade, faz a mulher não saber mais quem é, acaba com nossa auto estima, pois é um serviço sem reconhecimento, que não acaba nunca, que te deixa morta com farofa.
 Eu era sozinha, completamente independente, sempre trabalhei, tinha que lavar somente minha roupa, fazer comida somente para uma pessoa e quando eu queria, a maioria das vezes eu comia fora ou na dona da minha casa.
 O mundo é machista, sexista e infelizmente eu achei que comigo seria diferente, sempre acho que comigo vai ser diferente, mas não é. Por eu ter decidido ficar em casa e cuidar dos meus filhos, achei que minha vida seria cor de rosa, que eu não sofreria preconceito, que eu daria conta de tudo de boa e que seria a mulher mais feliz desse mundo, mas a realidade não é essa, a realidade é que a mulher que decide, mesmo que em conjunto cuidar da casa e dos filhos sofre o maior preconceito. A mulher tem que dar conta da casa, dos filhos, trabalhar fora, ganhar dinheiro e ainda ser bonita e gostosa. Não consigo imaginar a dor que sofre uma mulher que é obrigada a passar por isso, que não planeja, que vira mãe no susto.
 Estou tentando transformar esse período de espera em algo positivo, em algo bom para mim, estou estudando, lendo bastante, fazendo cursos e pelo menos descobri algo.
 Gosto de moda, gosto de arte, gosto de história, sempre fui bem nessas matérias, sempre estive no meio disso e é nisso que vou investir, agora é o momento de eu fazer somente o que eu quero e gosto, é o momento mais oportuno.
 Nas minhas andanças vendo exposições descobri uma faculdade mega power que tem tudo a ver comigo, uma faculdade com cursos sobre arte, moda e história, história da arte na moda, bingo!!!!! Estou procurando por isso desde que engravidei, cursos de curta duração, que tem a ver com o que eu gosto e que eu possa fazer no período na tarde quando as crianças estiverem na escola. Não quero colocar elas na escola em período integral, não tenho parentes para me ajudarem a levar, buscar, não vou me sentar numa sala de aula toda noite e largar minha casa sozinha, sendo que meu marido viaja e fica a maioria da semana fora de casa, as crianças vão ficar com quem?
 Pelos próximos 15 anos pelo menos terei que cuidar deles, não me interessam o que falam, ah, eles se viram, não, eles não se viram, eles precisam de mim, não me interessa que o mundo ache normal largar os filhos para se criarem sozinhos, eu não acho isso, fui muito largada e negligenciada na infância e não vou fazer isso com eles, estou pouco me lixando para o achômetro, machismo e preconceito do mundo, eu não vou mudar meu foco. Quero realmente equilibrar carreira e maternidade e se tiver que sacrificar a carreira, será ela a sacrificada e não meus filhos e marido.
 Comentei na minha família que descobri esses cursos e que vou fazê-los, vocês não tem idéia do monte de desaforo que escutei deles. Meu irmão indignado que acha que estou desperdiçando meu potencial, que tenho que fazer um bacharelado, pois ele está terminando o dele agora. Minha avó puta da cara dizendo que moda é coisa de gente desocupada, tanto que quando eu tinha 18 anos e decidi que não queria mais computação, eu queria fazer moda e ela não deixou, passaram-se quase 20 anos e ela continua com a mesma cabeça e eu continuo tendo cada vez mais certeza de que estava certa quando quis ser independente e cuidar da minha vida sozinha. Já me questionei se eu tinha feito certo, mas vejo que fiz sim, afinal eu nunca pude expressar minha opinião e veja só, mesmo com 35 anos, casada e com filhos eles continuam achando que o que eu quero e gosto é uma grande besteira e não presta. Se eu estivesse estudado moda na época tinha me dado bem, pelo menos teria uma formação em algo que eu sempre trabalhei e continuo trabalhando até hoje. Outra coisa, não adianta, já tentei tanta coisa, eu não combino com coisas normais, não gosto de rotina, não sou normal, não adianta eu fazer administração, economia, direito, apesar de achar o máximo e às vezes me sentir frustada por não ter feito nada disso, não tenho que me sentir frustada, não sirvo para isso, eu tinha era que descobrir algo que tivesse a ver com meu jeito de ser, e meu jeito de ser tem a ver com moda, arte e história.
 A terapeuta me disse que continuo esperando algo deles, que eu continuo esperando o reconhecimento e isso que me deixa bolada. Sei lá, não os avisei esperando reconhecimento, mas só avisei. Isso é algo que tenho que discutir e decidir apenas com meu marido e ele achou o máximo, apesar de tantas reclamações minhas com relação a ele, ele é a pessoa que mais me apoia no meu processo de descobrimento interno. Ele quer me ver bem, perto deles e quer poder ir trabalhar, viajar tranquilo sabendo que em casa está tudo bem.
 Sei que esse é momento, se existe um momento para eu me descobrir é esse, esse momento de introspecção, de ter que ficar em casa, de ter que buscar algo para ocupar minha cabeça, pois meu tempo já está bem ocupado, o momento de descobrir e fazer algo que realmente gosto e não algo para ganhar dinheiro, o dinheiro é sempre consequência de quando se faz algo de que se gosta.


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