terça-feira, 25 de junho de 2013

Agressão infantil

 Domingo passou uma reportagem no fantástico falando sobre os abusos contra crianças incluindo a agressão física. Nem assisti a reportagem porque só de ouvir falar nesse assunto tenho calafrios.
 Fui muito espancada por minha mãe na infância e adolescência e ela só parou de me espancar quando eu já tinha 18 anos e ela tentou me espancar novamente e eu segurei a mão dela e disse que ela nunca mais bateria em mim pois eu já tinha 18 anos e ela sempre me disse que depois dos 18 anos eu poderia decidir o que eu queria da vida, até lá ela que mandava em mim.
Hoje em dia falo com ela normal, mas toda vez que toca-se nesse assunto eu tenho vontade de jogar na cara dela, porque parece que ela esqueceu completamente o que me fez na infância. Hoje em dia tenho que gastar horrores de dinheiro com terapeuta para curar o trauma que essa pessoa ignorante deixou em mim.
 A vontade que tenho é de fechar os olhos e esquecer o passado, sei que passado ficou para trás, já foi, vida nova, tudo novo, tudo que eu sofri na minha infância ficou na infância. Hoje em dia tenho uma vida de princesa e ela em compensação vive um dia de cada vez, devendo até a alma, numa casa caindo aos pedaços, porque ela não cuida, afinal de contas não tem mais eu para trabalhar de empregada para ela.
 Só isso já seria o suficiente para eu me sentir "vingada" com o que foi feito comigo, mas parece que não é.
 Depois que virei mãe parece que meu sentimento piorou, porque eu vejo o jeito como eu sou como mãe e o jeito que ela era e eu fico mais revoltada do que já fui um dia na minha vida. Não me conformo com o que ela fez comigo e não consigo superar isso, é tão difícil.
 Nossa, eu apanhava muito e era todos os dias, porque a louça não estava bem lavada, porque meus irmãos estavam chorando, orque eu falei alguma coisa que ela não gostava, porque eu estava querendo atenção e ela não me dava, porque eu na primeira série não sabia escrever, estava sendo alfabetizada e tinha liçã para fazer em casa e eu não conseguia escrever o b, ela foi tentar me ensinar, perdeu a paciência, deu uma porrada na minha cabeça e lá se vai uma cicatriz até hoje na minha mão, porque quando ela bateu minha cabeça, meu dente pegou na minha mão e rasgou minha mão. Não me conformo que ela quebrou meu dedo mindinho me batendo e não teve a pachorra de me levar ao ps, depois de dois meses um tio meu apareceu e falou, o dedo dessa menina está quebrado, vamos levá-la ao médico.
 Tento esquecer as coisas sabe, porque ela já esqueceu. Sei que ela já paga o preço pelo que me fez, pelo jeito como eu a trato, não trato ela mal, mas trato como eu trataria qualquer funcionária da padaria, atendente do supermercado, uma colega...
 Quando converso com ela eu juro que tento, mas não aguento não falar nada, fico possessa com as coisas que ela fala, pois ela age como se tivesse sido a melhor mãe do mundo. "quando vocês eram pequenos eu fazia papinha de babata doce, botava uma carne, blablabla" Cara, eu lembro de dela quando eu era pequena e ela não era tudo isso não, lembro quantos vezes eu fui para a escola com fome, porque ela dormia até meio dia, levantava correndo, jogava as mochilas nas nossas costas e ainda nos chingava porque não tínhamos acordado para ir a escola, aliás, eu ainda apanhava porque eu com oito anos tinha que ser responsável pelo meu horário de ir para a escola... Quantas vezes nosso almoço era polenta com leite e açúcar porque ela tinha preguiça de fazer comida para nós..
 Quase não ligo mais para minha mãe e quando ligo acabo passando raiva porque ela diz coisas que não condizem com a realidade, são mentiras e eu fico com raiva e acabo sendo grossa e rude com ela.
 Por isso faço terapia, não quero mais ser rude e grossa, porque ela fez merda na vida e já está pagando por isso e eu queria poder esquecer, mas não consigo.
 Eu lembro das coisas que ela fazia comigo e tenho vontade de chorar de ódio.
 Ela me fazia de faxineira da casa, eu lavava banheiro, teto, janelas com 10 anos de idade. Vivia tirando nota baixa no colégio, todo mundo me chamando de burra, mas a verdade é que la não me deixava estudar, só podia estudar depois de lavar a louça, encerar o piso, lavar o banheiro e trocar meu irmãos, aí eu podia estudar.  E quando eu não entendia alguma coisa e pedia uma ajuda, o resultado era porrada na cabeça e cicatriz nas mãos.
 As pessoas falam que preciso esquecer, porque passou, mas é tão difícil, sei que a vida seguiu e tudo deu certo, estou aqui viva, feliz e cheia de saúde, mas como é difícil não odiar alguém que te tirou da escola particular com 13 anos e te fez trabalhar numa loja de calçados para "levar dinheiro para casa", que não é nada demais quando a família realmente precisa, mas no nosso caso, meu pai é de família rica e sempre deu de tudo e mais um pouco, escola particular paga, roupas, comida, pensão e fora os extras. Fora esses extras que essa mulherzinha arrancava tudo da nossa mão. Toda sexta-feira meu avô dava 10 pila, 20 pila para comprarmos cachorro quente e tomar uma coca cola, eu nunca comi esse cachorro quente e nem essa coca cola na minha vida, porque ela arrancava tudo e até hoje não sei onde está esse dinheiro.
 E minhas roupas, acho que por isso que sou alucinada por roupas hoje em dia, que quero comprar tudo que vejo na frente, tenho medo que acabe.
 Minha avó sempre nos vestiu e como ela tem dinheiro sempre deu do bom e do melhor e sem miséria, pois a pessoa que é minha mãe que tinha que querer o melhor para mim dava minha roupa para os outros e fazia eu andar só com roupas velhas e furadas para ver se minha avó dava mais, mas porra, hoje em dia eu entendo minha vó, ela já tinha dado a roupa, cadê a roupa, mas não, minha mãe queria mais. Eu andava igual uma mendiga, todos tinham pena de mim achando que eu era uma coitadinha e na verdade eu era uma princesinha que tinha mãe má, nem era a madrasta, era a mãe mesmo.
 Meus brinquedos ela dava tudo para os outros, lembro que passava gente pedindo as coisas, ela fazia eu dar minhas bonecas e eu ficava sem, tinha que dar para os outros que os outros precisavam, mas eu precisava também, eram meus brinquedos, depois eu não tinha com o que brincar.
 Tenho tanta raiva dela, de tudo que ela me chamava, de burra, idiota, que eu acabei com a vida dela...
 Dizem para mim que eu tenho que esquecer, que ela é uma pessoa ignorante, que foi criada desse jeito, mas é tão difícil... É tão difícil esquecer as agressões, as surras, os maus tratos, lembrar dos outros rindo de mim por causa do tênis furado, sendo que ela podia comprar o tênis, minha avó dava o dinheiro para isso, inclusive eu pegava esse dinheiro, ela embolsava, não comprava o tênis e fazia eu sofrer.
 Não consigo esquecer as surras por nada, as marcas de vara e as cicatrizes que tenho até hoje em dia. Fico inconformada como que ninguém fazia nada para me ajudar. Sei que teve vizinhos que quiseram denunciar, não sei porque não foi denunciado, acho que naquela época não era simples como agora, eu preferia mil vezes ter sido criada num orfanato do que por ela. Não precisaria ir para o orfanato, porque tinha meu pai, minha vó, mas eu preferia isso ml vezes do que o que aconteceu.
 Por isso fico com raiva até de reportagens que falam sobre agressão infantil, fora pessoas que convivo que falam, ai eu dou uma palmada mesmo se teima comigo. Cara, quem foi que te deu o direito de bater numa criança só porque ela não faz o que vc quer? Como assim? É um absurdo bater em alguém menor que vc por qualquer motivo. Você não pode bater num estranho senão vai para a cadeia por agressão, como que podes bater numa criança, teu filho, sangue do teu sangue, um pedaço d teu coração, o amor incondicional da tua vida.
 Fora o fato que como eu falei no começo, que com 18 anos ela veio me bater e eu falei que ela nunca mais me bateria e só segurei a mão dessa diaba, ela se jogou no chão e depois saiu falando para todo mundo que tinha batido nela...
 Depois falava que eu era revoltada, que não sei oq, lógico que era revoltada gente, como não ser? Eu não queria mais apanhar, não queria mais ser explorada, já estava de saco cheio dela ficar arrumando emprego para mim para dar o dinheiro para rela fazer sei lá o que, porque para comprar comida não era, pois esse dinheiro minha vó dava.
 Fico com tanta raiva quando falo com ela, pois ela fala coisas que não condizem, de que filho ela está falando que ela era tão boa mãe assim? Eu que não era...




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